Historia do suicidio: Aspectos culturais, socioeconomicos e filosoficos

31/05/2014 23:35

Historia do suicidio: Aspectos socioculturais, filosoficos e economicos

 

A palavra suicidio foi utilizada pela primeira vez no século XVII, na Inglaterra. O termo aparece na obra do ingles Sir Thomas Browne, na obra Regio Medici, publicado em 1642 (Sena, 1967).

 

Desde a antiguidade até os nossos dias atuais, muitas pessoas buscaram soluçao em tirar a propria vida, mas esta escolha nunca foi percebida como indiferente, porém sempre muito contraditoria no decorrer dos tempos, seja no campo sociocultural, como economico, filosofico, politico e religioso. 

Em algumas sociedades, ato de heroismo; em outras, ato de liberdade ou ato de reprovaçao social. 

Na Grécia Antiga nao existe unanimidade com relaçao a morte voluntaria. Existiam divergencias entre correntes filosoficas no decidir sobre a propria vida e a propria morte, bem como aquelas que defendiam o fato de que o ser humano nao deve raciocinar em funçao de seu interesse pessoal e individual, portanto nao tinha o direito de tirar a propria vida, jà que esta deveria ser resguardada para um bem social. 

Na Roma Antiga, a legitimidade da morte voluntaria vai depender da classe social a qual o homem pertence. Obviamente que, por razoes economicas este ato é negado para os escravos e soldados, enquanto que para os homens livres nao existe nenhum veto legal ou religioso que os impeça de faze-lo, bem como nao existem sançoes legais que sao destinados aqueles primeiros que tentam tirar a propria vida, legitimando o suicidio para uma determinada classe social, se configurando mais uma vez a questao contraditoria do suicidio nao sò no tocante a uma época e aos motivos do ato em si, mas divergindo em um contexto social de uma mesma època. 

Na Idade Média a morte voluntaria é considerada uma tentaçao diabolica ou um ato de loucura. No entanto, mais uma vez depende da classe social a qual o individuo pertence. Quando se trata dos camponeses, escravos, colonos e do artesao, que fazem parte da gleba, sendo estes ligados a terra e ao seu senhor, o ato é considerado criminoso e nao importa o motivo que levou a pessoa a cometer o ato, sendo que ao morto estao negadas todas as honras funebres, bem como o confisco de bens(?) de sua familia e a condenaçao eterna do morto, tendo a colaboraçao do estado e da Igreja para esta regulamentaçao socioeconomica. Jà quando se tratam dos cavaleiros medievais, este ato vem com o significado de um ato de coragem, bravura e patriotismo para com o Estado. 

No Renascimento, as atividades economicas caracterizam-se pelo individualismo. Em consequencia disto, a tendencia ao isolamento crescem, trazendo consigo a angustia, as incertezas e a inquietude que colaboram para o suicidio. 

No Iluminismo, a explicaçao sai de um teoria exclusivamente religiosa para dar ingresso a um ato da ordem do humano, sendo resultado de circunstancias sociais e/ou psicologicas. A posiçao dos Filosofos das Luzes é flutuante e nao sistematizada quando o assunto é suicidio. 

O advento da Revoluçao Industrial trouxe a desagregaçao dos laços de pertencimento, pois o individualismo e o isolamento crescente permitiu um distanciamento cada vez mais crescente das ligaçoes tradicionais sociais e da religiao, proporcionando assim um aumento das taxas de suicidio. No século XX, a reprovaçao e as contradiçoes sobre o suicidio permanecem. Obs.:Os suicidas nao tinham direito ao enterro religioso.

 

       

            Romeu e Julieta

 

Suicidio para Durkheim: 

 

Durkheim explicou através de sua teoria (Suicide,1897), em uma abordagem positivista, que o suicidio é um fato social ou seja, um fato explicado socialmente, sempre levando em conta a integraçao social do individuo com a coletividade, a sociedade. Estudou as taxas de suicidio correlacionando-as com a integraçao social. Concluiu através dos dados de sua pesquisa que as pessoas que se matavam mais eram dois grandes grupos: pessoas das areas urbanas e os protestantes. Conclui que com a Revoluçao Industrial os laços sociais se desgastam levando a um sentimento de despertencimento desta consciencia coletiva. 

Para Durkheim, os tipos de suicidio sao: egoista, anomico e altruista. Posteriormente, atribuem a Durkheim a categoria de suicidio fatalista, porém em sua obra de 1897 ele cita apenas tres.

O suicidio egoista se caracteriza pela pouca integraçao na sociedade, sendo o mais comum dos quatro tipos. 

O anomico é causado quando o individuo se ve em uma situaçao de instabilidade social, configurado por uma crise da ordem e das regras sociais, pois estas nao correspondem com os objetivos de vida do individuo; Configura-se por pouca estabilidade social. Neste caso, o suicidio é causado por uma crise de ordem e regulaçao social. 

O altruista é o suicidio em que os individuos se sacrificam por uma causa social, coletiva. 

O fatalista também està correlacionado a uma crise de ordem e valores sociais, mas neste caso, nao é a falta de regras sociais, como no anomico; neste caso, a sociedade controla tudo, deixando deste modo, pouca possibilidade de escolha ao individuo perante as regras inflexiveis estabelecidas por esta sociedade.  Um exemplo classico é o da escravidao.

 

 

Soraya Rodrigues de Aragao. Psicologa, CRP-11/06853

Para referir: ARAGAO, S. R.